O que você faz x Quem você é

Estou praticamente há um mês sem postar nada intencionalmente no meu Instagram. Sou meu próprio case de fracasso quando o assunto é crescer nas redes sociais (risos). Os gráficos podem provar — estou no negativo quando o assunto são as métricas. Para muitos, isso significa que eu tenho fracassado. Para mim, isso significa que nenhum ser humano é capaz de ser - saudavelmente produtivo - o tempo todo. Eu precisei pausar, respeitar meus bloqueios criativos e deixar minha energia fluir para outros lugares além do digital. Mas nem sempre eu levei isso de forma tão tranquila.

Quando comecei a trabalhar como criadora de conteúdo, a sensação de perder 3 mil seguidores em menos de um mês abalava muito a minha identidade. Pensamentos como: As coisas que faço não tem valor, as pessoas nunca vão gostar, etc., rondavam minha mente. Pode soar fútil, eu sei. Mas penso que isso tem nos afetado mais do que possamos imaginar. Deixe-me tentar te explicar:

No fundo, ninguém gosta de falhar e, muito menos ser visto como alguém que fracassou. Por conta das redes sociais é muito fácil que os nossos fracassos sejam facilmente expostos ou acessados — ainda que nos esforcemos para mascará-los. No entanto, como seres humanos, é impossível viver de forma saudável cedendo ao ritmo daquilo que é considerado "sucesso" nas redes sociais. Basicamente, a ideia é que, quanto mais você produz, entra nas tendências e consome nas redes sociais, mais você é reforçado, parabenizado e premiado pelo algoritmo. Ao contrário disso, existe uma punição: você perdeu. Nesta lógica, iremos fracassar.

Portanto, uma das interpretações que a nossa mente pode facilmente fazer é a de que, nós só temos valor a medida que estamos produzindo algo. Não existe espaço para pausas, não existe espaço para processar. Apenas produzir e expor. E de novo: Produzir e expor. É neste sentido que, a ideia de que o que você faz se torna muito mais importante do que a de quem você, simplesmente, é.

Não podemos permitir sermos definidos pelo que fazemos. Chegará um dia em que experimentaremos as nossas limitações, sejam elas emocionais ou físicas. Nem todos os dias poderemos produzir coisas. Ás vezes precisaremos nos esconder, respirar, sentir e apenas ser. Não dá pra viver em uma performance o tempo todo, isso nos matará aos poucos. Sufocará o que resta de nós.

Somos mais, muito mais, do que aquilo que fazemos. Nosso valor não está apenas nos nossos momentos mais produtivos. Mas também está em meio ao silêncio. Precisamos limpar as nossas lentes embaçadas e nos lembrar que este é o Escândalo da Graça: Falhamos e ainda assim, somos amados, valorizados, aceitos e acolhidos.

Mariana Baroni